quarta-feira, dezembro 28, 2005

Saudade

Ninguém melhor que Pablo Neruda para definir o sentido da palavra saudade:
Saudade é a solidão acompanhada,
é quando o amor ainda não foi embora
mas o amado já...
Saudade é amar um passado
que ainda não passou,
é recusar um presente que nos machuca,
é não viver um futuro que nos convida...
Saudade é sentir que existe
o que não existe mais...
Saudade é o inferno dos que perderam,
é a dor dos que ficaram para trás,
é o gosto de morte
na boca dos que continuam...
Só uma pessoa no mundo
deseja sentir saudade:
aquela que nunca amou.
E esse é o maior dos sofrimentos:
não ter por quem sentir saudades,
passar pela vida e não viver.
O maior dos sofrimentos
é nunca ter sofrido.
Pablo Neruda

terça-feira, dezembro 20, 2005

Começo... comenlouqueço...

Minha aventura poética começa novamente. Em meu recanto, tranco-me para ser livre. Os 'pensamentos beija-flores' pousam e se alimentam do meu 'cérebro-néctar'. Eles vêm e vão. Às vezes, provocam excitações surpreendentes que alegram a parte oculta do Ser. Conseguem me deixar insano. Então, por um momento, enlouqueço, organizo e crio. Criar!!!! Crio o meu desejo de sorrir, O Amor-Pão, O sexo das cores, A fala das Águas. Desafio a razão. Ouço a seca voz da fumaça. Sinto a pancada do vento nas mãos de Nhô quando, firmes, seguram as correias de seu carro de boi. Cultivo o afago nas linhas. Vejo e sorrio para o 'mato de comer'. Eu o desenho em palavras para se ver de ouvir. Tenho coragem. Não! Não quero voltar para a prisão! Deixe-me livre!! Os minutos são os seres mais cruéis que existem em meu braço esquerdo.

sábado, dezembro 17, 2005

As mulheres de minha vida

Hoje eu quero falar sobre a mulher, ou melhor, sobre as mulheres da minha vida. Antes de eu iniciar minha discussão, quero lembrar que até meados do século XX, as mulheres eram educadas para cuidarem dos maridos e filhos e para não sentirem prazer durante o ato sexual. Profissionalmente, não podiam ser mais do que freiras, professoras de piano, professoras da pré-escola, modistas, cozinheiras. Enfim, profissões até então exclusivas para mulheres.
Mas as mulheres de minha vida não são assim e jamais aceitariam tal papel diante da sociedade. As mulheres da minha vida são Edna Pontellier, Bertha Young, Tieta, Elizabeth Bates, enfim, mulheres fortes, decididas, guerreiras.
Edna Pontellier é uma personagem da novela The Awakening (O Despertar), de Kate Chopin. Após treze horas de sono ininterrupto, ela acorda e percebe que ela pode ser muito mais que uma das posses do marido, mais que uma mãe devota, mais que uma figurante e, para que isso aconteça, ela deve partir em busca de si mesma, de sua liberdade, em busca de seu verdadeiro "eu".
Bertha Young, 31 anos, é a personagem principal do conto Bliss, de Katherine Mansfield. Para Bertha, sua vida era perfeita, seu marido era perfeito, sua casa era perfeita. Até que esta descobre que era traída pelo marido e, ao invés de sofrer e se acabar em lágrimas, Bertha "dá a volta por cima". Isso não é bárbaro?
Tieta, protagonista do romance Tieta do Agreste, de Jorge Amado, é escurraçada de casa e, ao invés de se lamentar pelas ruas de sua cidadezinha, vai para São Paulo, onde consegue dinheiro suficiente para retornar a Santana do Agreste e se vingar daqueles que um dia a ingnoraram e a chamaram de imoral.
Elizabeth Bates aparece no conto Odour of Chrysantemums, de D.H. Lawrence. Bates sofre nas mãos de um marido alcóolatra, que gastava todo o dinheiro que ganhava trabalhando como mineiro para sustentar seu vício. Cansada de esperar pelo marido, que nunca chegava em casa para jantar com sua esposa e filhos, Elizabeth arremessa a comida no fogão de lenha e dá início a uma nova vida.
Enfim, acho que a mulher não pode e nem deve ser submissa. A mulher deve sim, sentir prazer durante o ato sexual, deve trabalhar, deve se sustentar, deve se sobressair. As mulheres da minha vida são bárbaras, bonitas e, por isso, não devem se curvar a ninguém. Elas devem é fazer com que todos se curvem perante elas.

quarta-feira, dezembro 14, 2005

'Sonho de uma noite de inverno'

Eu lhe disse:
_ Hoje à noite, sonhei.
Os teus cabelos me circundava o pescoço.
Eles eram como um colar negro que me envolvia a nuca,
Caindo-me nos seios.
Eu os afagava,
E eram meus,
E ficávamos ligados para sempre,
Assim,
Pelos mesmos cabelos,
De lábios colados,
Como dois loureiros que costumam ter uma única raiz.
E, pouco a pouco,
Parecia,
Tamanha era a confusão de nossos membros,
Que eu ia transformando-me em ti
Ou
Que tu ias entrando em mim
Como o meu sonho.
Estava a ouvir 'Man of the moon',
Lendo 'Luar', de Verlaine
E imaginando-o calmo,
Triste,
Mas formoso,
A dar aos pássaros das árvores e mais suspiros de êxtase aos grandiosos,
E ainda,
Afagando os meus cabelos.

quinta-feira, dezembro 08, 2005

Radiografando a dor

Simple acordou com uma dor dilacerante em seu peito. Ele não sabe o que fazer. Ele nada pode. As reflexões o torturam logo no café. O ódio acompanha sua dor. Tudo o que ele precisa é de um pouco de atenção. Não a tem. Ele sonha com a infância. Ele ouve Schumman. Sofre. Desiste da música e folheia um velho livro de poemas. Em sua mente surge, inesperadamente, um nome e isso o tortura. Um afeto. Um carinho. Um toque dos lábios em sua fronte. Ele deseja uma vida. O sofrimento é a coisa mais estranha e mais pura que existe. Simple dói. Ele não gosta de nomes. Toda pessoa a quem ele chama pelo nome, desaparece. Agora ele ouve 'Old Man River'. Sente uma força inexplicável. Seu sonho não é, não pode ser, não estará. Em cada batida de seu coração, pulsa uma dor. Simple é um refugiado de alguma coisa. O mundo ao qual ele se agarrou e as vidas que ele prezou, fazem parte de algo maior, supremo. Isso o destrói. Atenção! Dói tanto... E Simple cai em sono novamente.

sexta-feira, dezembro 02, 2005

Migalhas de amor...

Sempre fui um leitor da Revista TPM e não posso negar que gosto muito dos textos veiculados mensalmente na "Coluna do Meio", de Milly Lacombe, principalmente pelo fato de eu muito me identificar com o que ela escreve. Hoje eu lia um texto em que a colunista fala sobre as vezes em que ela sofreu por e de amor.
Gostei tanto deste texto que tomei a liberdade de copiar a idéia de Milly Lacombe e falar sobre as vezes em que eu sofri de amor.
A primeira vez em que eu sofri por amor, foi aos 11 anos, por uma bela menina chamada Karla, mas isso foi apenas uma paixonite sem muita relevância para mim. Já a minha segunda vez, foi aos 14 anos, por uma garota chamada Daniela e foi uma paixão tão forte, que eu cheguei ao ponto de achar que eu só seria feliz se estivesse ao lado desta garota. Sabe quando sentimos aquela paixão dolorida, que faz com que nós percamos peso, fiquemos tristes, choremos por tudo? Pois foi bem assim que eu me senti, mas isso também era um dos platonismos de adolescente...
Hoje, aos 24 anos, eu continuo sofrendo por amor. Estranho não? Amor que eu sequer posso demonstrar, gritar para todo mundo ouvir em alto e bom som, amor errado, amor pecaminoso, amor inconvencional... É como se eu não tivesse aprendido a(s) lição(ões).
Bizarra (e por que não ridícula?) essa idéia estranha que eu tenho de que a minha felicidade está ao lado de alguém. A felicidade não pode vir de fora, mas sim de dentro. Em um de seus textos, Lacombe fala sobre as migalhas da felicidade e conclui dizendo que a felicidade jamais ocorre em estado contínuo -- só em migalhas. Engraçado como isso faz sentido. Não adianta ficar à procura da felicidade constante, pois ela é tão efêmera, que quanto mais a buscamos, mais distantes dela nós ficamos.
Pois bem, essa conclusão tão "radical" me leva a outra pergunta que não se cala: o que fazer quando as migalhas já não são mais suficientes?