segunda-feira, novembro 14, 2005

A cor do amor

LOPEZ, Alfredo. Amour de saucisses. Giz de cera sobre tela - 40x40
Outro dia minha psicoterapeuta disse que eu carregava um semblante de tristeza e mandou que eu pintasse essa tristeza. Perguntei-lhe qual era a cor da tristeza e ela disse: "Apenas escolha uma cor e pinte, Aurélio."

Escolhi o cinza e nem sei o porquê disso. Gosto de cinza, embora essa cor sempre me remeta a um certo melancolismo e isso é horrível. Mas o tema desse assunto não é o que me deixa melancólico, mas sim, como o fato de eu ter de pintar (com) a cor da tristeza me fez lembrar de Só se for a dois, uma canção de Cazuza em que ele diz "qual é a cor do amor".

Acho que o amor, assim como a felicidade, não têm cor. Segundo Lacan, as fantasias precisam ser irreais. Porque no momento, no segundo em que se consegue o que se quer, não quer, não pode querer mais. Para poder continuar a existir, o desejo tem de ter os objetos eternamente ausentes. Não se quer "algo", quer-se a fantasia desse "algo". Logo, o desejo apóia as fantasias desvairadas.

Por mais que isso seja complexo, pode-se concluir que a idéia de Freud para a felicidade (e por que não para o amor?) é a mais aceita, ou seja, fantasia-se algo e, assim que esse "algo" é atingido, ele passa a ser real e, conseqüentemente, inicia-se uma busca por um novo "algo", que é maior, mais complexo e que, quando for alcançado e, por conseguinte transformado em realidade, se transformará em uma nova meta. Megalomania? Talvez sim, embora a teoria de Freud em diálogo com a de Lacan se fazem bastantes lógicas nesse contexto.

Em outras palavras, pode-se inferir que a felicidade, o amor e a alegria são nada mais nada menos que momentos, flashes, que de tão rápidos jazem no passado e nunca no presente ou no futuro.

Destarte, pode-se dizer que o amor não tem cor, cheiro, sabor. Amor e felicidade equiparam-se a momento, passagem, efemeridade. DIANNE, Michèle. L'heure Magique d'Amour. Óleo sobre tela - 30x25.

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Antes eu queria parabenizar vcs por esse espaço que eu estou adorando visitar, e estou sempre de olho! :)
Quanto ao texto eu concordo com vc, a felicidade é efêmera e passageira... não há muito o que se fazer quanto a isso. Contudo, existe uma constante busca pelo amor na esperança de se conseguir felicidade e talvez isso leve a grande maioria das pessoas a não separar os esses dois conceitos. Pelo menos é assim que eu vejo. Abraço.

terça-feira, novembro 15, 2005 7:19:00 AM  

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