sexta-feira, outubro 21, 2005

Sorte...

Iniciei esta semana pensando como pude eu ter nascido perfeito? Não uma perfeição egoísta ou narcisista, mas digamos: funcionalmente perfeito. Quando parei para refletir, isso soou para mim como se eu tivesse acertado em alguma loteria de prêmio acumulado e gigante.
Já explicarei aos caros leitores esta minha súbita questão. Estou, como já disse no post anterior, na última fase de Educação Física e nesta fase tenho quatro disciplinas relacionadas à educação especial. Foi numa noite, quando estava preparando um trabalho para apresentar na disciplina de Fundamentos da Educação Física Adaptada que me peguei pensando sobre isso.
É euforicamente perigoso pensar que dentre tantos problemas e causas de deficiências, que vão de fatores genéticos aos não-genéticos, das inúmeras síndromes e mal-formações, que até hoje passei ileso e aqui me apresento “perfeito”. É eufórico pensar nisso, pois, dentro de nossa cultura da produção, posso me considerar um campeão, contudo é perigoso, pois pode fazer com que eu simplesmente esqueça que existem pessoas com necessidades especiais, e que uma melhor qualidade de vida destas depende de mim.
Retomando o que falei sobre a liberdade de Sartre, ela envolve todas as esferas de nossa sociedade, pois para sermos livres devemos libertar a todos, é assim que eu o compreendo. Esta questão pode ser associada a moralidade de Kant, apesar de ser um iluminista, este já dizia que o estágio máximo, que devemos buscar atingir, da moralidade é o bem de todos. Entretanto vemos que estamos muito, mas muito longe disto. É só olhar ao redor...
Como gosto de divagar e possuo pensamentos ariscos e estes já estão seguindo em outra direção. Retomando a moralidade, estamos vivendo em um mundo cada vez mais “virtualmente” (não no sentido de virtual, web, etc. mas sim de ilusório) integrado, pois, cada vez mais pensamos em nós mesmo e esquecemos do nosso redor. Criticamos e xingamos os políticos em todas as esferas, mas não olhamos nossos pequenos, e até tolos atos corruptos, mas não menos nocivos. Lembrando o poema do post passado: “Não há homem que seja por si sem, antes disso, ser toda humanidade” (Adilson S. Cardoso).
Bem não pretendo me estender muito mais. O recado que pretendo deixar é que devemos sim agradecer e até festejar o que somos e quem somos, mas não devemos esquecer os outros, pois estes, direta ou indiretamente, afetarão a nossa vida.

1 Comments:

Blogger Aurélio Araújo said...

Belo texto, Neno. Não me lembro de já ter parado para pensar em quão "perfeito" eu sou.

Já reparou que o Brasil não está preparado para lidar com pessoas que são portadoras de necessidades especiais? É raro encontrar rampas de acesso a calçadas. Ônibus com rampas para que os deficientes embarquem são quase um mito.

Enfim vivemos em um país que parece ter sido feito apenas para os funcionalmente perfeitos.

sábado, outubro 22, 2005 2:14:00 PM  

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