terça-feira, novembro 22, 2005

Embaraço na garganta seguido de jantar para um

Imagine a cena: um casal perdida e loucamente apaixonado, trocando juras de amor, fazendo acordos e promessas, verdadeiros pactos de fidelidade e amor eterno.
Tudo vai bem até que o destino, com suas garras afiadas e começa a dilacerar esta bela história (ou seria estória) de almas gêmeas que se encontram e coisas do tipo.
Muitos casais vivem isso. Você, caro leitor, certamente viu ou viveu algo semelhante. A dor de amor é algo estranho, pois ao contrário da enxaqueca que é controlada com analgésicos, ou da cólica renal, controlada por anestésicos e outros medicamentos, não há um remédio chamado Amorol 750mg para controlar a dor e o sofrimento de amor.
Parece que a vida conjugal é mesmo assim: uns poucos sortudos se dão bem e uns tantos azarados são obrigados a conviver com a terrível dor da perda, sendo forçados então, a prender o choro e lidar com um terrível e amargo embaraço na garganta seguido de jantar para um.

domingo, novembro 20, 2005

Die of having lived!

When we first face the title Death comes for the archbishop, we tend to think it will be a sad and cruel story. Nevertheless, the reading blossoms a beautiful and moving narrative about two French missionaries who come to the New World, New Mexico more specifically. Although many novels from the Realism show the dark side of the Catholic Church, Willa Cather honors the priests and their labor among the Mexicans. They bravely fight for a peaceful and noble life where there used to be illiteracy in many senses.
When Father Latour and Father Vaillant look back their lives when they are already aged, they say to each other: “But it has not been so bad, Jean? We have done the things we used to plan to do, long ago, when we were Seminarians, - at least some of them. To fulfill the dreams of one’s youth; that is the best that can happen to a man. No worldly success can take the place of that.” (p. 261) Later, when Father Latour catches a bad cold, his disciple Bernard tells him: “But you should not be discouraged; one does not die of a cold”. He then replies: “I shall not die of a cold, my son. I shall die of having lived”. (p. 269) Life should be, after the catharses given by this precious reading, a matter of living, whatever it may cost. Living has to be our goal and dying will be simply the rest after having lived so much. The two men gave their lives for the mission they believed to be infinite and they gained the entire fulfillment one can dream of. I want to accomplish the beauty of living eternally, both alive and dead.

segunda-feira, novembro 14, 2005

A cor do amor

LOPEZ, Alfredo. Amour de saucisses. Giz de cera sobre tela - 40x40
Outro dia minha psicoterapeuta disse que eu carregava um semblante de tristeza e mandou que eu pintasse essa tristeza. Perguntei-lhe qual era a cor da tristeza e ela disse: "Apenas escolha uma cor e pinte, Aurélio."

Escolhi o cinza e nem sei o porquê disso. Gosto de cinza, embora essa cor sempre me remeta a um certo melancolismo e isso é horrível. Mas o tema desse assunto não é o que me deixa melancólico, mas sim, como o fato de eu ter de pintar (com) a cor da tristeza me fez lembrar de Só se for a dois, uma canção de Cazuza em que ele diz "qual é a cor do amor".

Acho que o amor, assim como a felicidade, não têm cor. Segundo Lacan, as fantasias precisam ser irreais. Porque no momento, no segundo em que se consegue o que se quer, não quer, não pode querer mais. Para poder continuar a existir, o desejo tem de ter os objetos eternamente ausentes. Não se quer "algo", quer-se a fantasia desse "algo". Logo, o desejo apóia as fantasias desvairadas.

Por mais que isso seja complexo, pode-se concluir que a idéia de Freud para a felicidade (e por que não para o amor?) é a mais aceita, ou seja, fantasia-se algo e, assim que esse "algo" é atingido, ele passa a ser real e, conseqüentemente, inicia-se uma busca por um novo "algo", que é maior, mais complexo e que, quando for alcançado e, por conseguinte transformado em realidade, se transformará em uma nova meta. Megalomania? Talvez sim, embora a teoria de Freud em diálogo com a de Lacan se fazem bastantes lógicas nesse contexto.

Em outras palavras, pode-se inferir que a felicidade, o amor e a alegria são nada mais nada menos que momentos, flashes, que de tão rápidos jazem no passado e nunca no presente ou no futuro.

Destarte, pode-se dizer que o amor não tem cor, cheiro, sabor. Amor e felicidade equiparam-se a momento, passagem, efemeridade. DIANNE, Michèle. L'heure Magique d'Amour. Óleo sobre tela - 30x25.

sexta-feira, novembro 04, 2005

poesia...

O texto abaixo me agrada muito, por isso hoje irei postá-lo. Espero que gostem. Um dia você aprende... Depois de algum tempo você aprende a diferença, a sutil diferença entre dar a mão e acorrentar uma alma. E você aprende que amar não significa apoiar-se, e que companhia nem sempre significa segurança. E começa a aprender que beijos não são contratos e presentes não são promessas. E começa a aceitar suas derrotas com a cabeça erguida e olhos adiante, com a graça de um adulto e não com a tristeza de uma criança. E aprende a construir todas as suas estradas no hoje, porque o terreno amanhã é incerto demais para os planos, e o futuro tem o costume de cair em meio ao vão. Depois de um tempo você aprende que o sol queima se ficar exposto por muito tempo. E aprende que não importa o quanto você se importe, algumas pessoas simplesmente não se importam... E aceita que não importa quão boa seja uma pessoa, ela vai feri-lo de vez em quando e você precisa perdoá-la por isso. Descobre que se leva anos para se construir confiança e apenas segundos para destrui-la. Aprende que verdadeiras amizades continuam a crescer mesmo a longas distâncias. E o que importa não é o que você tem na vida, mas quem você tem na vida. E que bons amigos são a família que nos permitiram escolher. Percebe que seu melhor amigo e você podem fazer qualquer coisa, ou nada, e terem bons momentos juntos. Descobre que devemos deixar as pessoas que amamos com palavras amorosas, pode ser a última vez que as vejamos. Aprende que as circunstâncias e os ambientes tem influência sobre nós, mas nós somos responsáveis por nós mesmos. Começa a aprender que não se deve comparar com os outros, mas com o melhor que pode ser. Descobre que se leva muito tempo para se tornar a pessoa que quer ser, e que o tempo é curto. Aprende que, ou você controla seus actos ou eles o controlarão, e que ser flexível não significa ser fraco ou não ter personalidade, pois não importa quão delicada e frágil seja uma situação, sempre existem dois lados. Aprende que heróis são pessoas que fizeram o que era necessário fazer, enfrentando as consequências. Descobre que algumas vezes a pessoa que você espera que o chute, quando você cai é uma das poucas que o ajudam a levantar-se. Aprende que maturidade tem mais a ver com os tipos de experiências que se teve, e o que você aprendeu com elas, do que com quantos aniversários você celebrou. Aprende que há mais dos seus pais em você do que você supunha. Aprende que nunca se deve dizer a uma criança que sonhos são bobagens, poucas coisas são tão humilhantes, e seria uma tragédia se ela acreditasse nisso. Aprende que quando está com raiva tem o direito de estar com raiva, mas isso não lhe dá o direito de ser cruel. Descobre que só porque alguém não o ama do jeito que você quer que ame, não significa que esse alguém não sabe amar, contudo, o ama como pode, pois existem pessoas que nos amam, mas simplesmente não sabem como demonstrar ou viver isso. Aprende que nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém, algumas vezes você tem que aprender a perdoar-se a si mesmo. Aprende que com a mesma severidade com que julga, você será em algum momento condenado. Aprende que não importa em quantos pedaços seu coração foi partido, o mundo não pára para que você o conserte. Aprende que o tempo não é algo que possa voltar para trás, portanto, plante seu jardim e decore sua alma, ao invés de esperar que alguém lhe traga flores... E você aprende que realmente pode suportar... que realmente é forte, e que pode ir muito mais longe depois de pensar que não se pode mais. E que realmente a vida tem valor e que você tem valor diante da vida! Nossas dúvidas são traidoras e nos fazem perder o bem que poderíamos conquistar, se não fosse o medo de tentar. (Willian Shakespeare)

quinta-feira, novembro 03, 2005

A voz de Goiânia -- parte I

Ouça, ou melhor, leia alguns fragmentos colhidos durante uma terça-feira na cidade de Goiânia-GO.
8h47 em um ônibus coletivo -- duas mulheres conversam
"Não gosto de mexas na franja. Assim, sei lá, mas eu acho que num fica legal, né? A, como é mesmo o nome da minina lá, acho que é Marta, da recepção fez no cabelo e o cabelo dela deixou ela meia estranha né? Cê também achou?"
8h54 no mesmo ônibus -- um passageiro pergunta
"Esse busão passa pela 136 ali perto da 85?"
9h12 - duas garotas transeuntes falam sobre um rapaz
"Eu conheci ele lá numa festa do colégio no mês passado (...) eu tipo assim, achei ele bonitinho, mas ele beija meio mal(...)"
10h26 - Faculdade de Letras da UFG
"Você tava aqui na aula anterior? Parece que esse povo tá com uma cara..."
11h33 - Numa soneca, um professor de literatura "pesca um tubarão" durante sua aula. Os alunos riem e comentam.
12h01 - Duas alunas dessa mesma turma conversam
"Eu tenho que ir no banco, mas você me espera pra gente almoçar juntas. Eu vou de carro pra andar mais rápido."
12h28 no Posto de atendimento do banco ABN AMRO Real, Campus II da UFG
"Só vou esperar o cartão de assinatura vir pelo fax e te desconto o cheque enquanto você fica sentado. Aí eu te chamo e te passo o dinheiro."
13h44 - Um ônibus coletivo enguiça
"Xiii, pifou de novo. Agora é esperá, né. Às vezes o outro chega mais rápido."
15h07 em uma escola de Inglês
"Ô teacher, cê já disse mil vezes como é fim de semana, mas eu não lembro."
15h07 - outra aluna responde
"É weekend, né teacher?!"
18h15 num programa de rádio da 97,1 FM
"Caipira, aqui é da GLS Telemensagens e o três pontinhos te deixou uma mensagem. Posso passar? (...) Caipira, o que você achou da telemensagem?..."
19h22 no Colégio Meta Brasil
"Professor, você viu a Creuza só de lingerie ontem na casa do Feitosa na novela?"
19h22 - eu respondo
"Gente, que tal vocês 'saírem' da escola hoje pra gente ver o que vai acontecer com a Creuza?"
21h30 no colégio - uma professora conversa com a outra
"Parece que todo mundo foi ver novela. (Risos)."
E quem disse que a cidade não tem sua própria voz?
Continua...

terça-feira, novembro 01, 2005

Um deus humanizado

Bem sei que todos nós inventamos os nossos amigos, se é que não a nós próprios quando queremos estar de bem com o mundo. Mas Mr. Simple, este Mr. Simple que veio se meter entre mim e o que ele fosse já foi demais inventado. Não só pela realidade vivida, mas também pela história imaginada. Realista, utópica ou não, o que não gosto é de sentir-me um personagem do meu personagem, ele me mandando vir e eu a ir ver como é.
Percebo que deveria ter escrito este texto em terceira pessoa, tudo transposto e bem arrumadinho, como uma tática para os que sabem se defender. Mr. Simple é diferente. Não sei diferente do quê. Talvez seja somente cisma minha. Como é tão mais fácil a gente sentir-se enamorado do que aceitar que se pode ficar 'enamorado'. Para esses sentimentos não há treino; eles surgem levando o nosso corpo ao encontro da alma e do espírito em ígneo turbilhão. Às vezes tão contrário a si, mas fiel ao exercício das pequenas coisas... E a história imaginada não estará pelo avesso sem um final feliz... Ela segue o seu curso. E até lá vamos viver. Apenas começamos!! (Oxe! Cá estou em primeira do plural! Sem essa de: "Nós"!!). Mr. Simple confunde-se e confunde-nos! Ele insiste em lutar contra o seu instinto. Sua natureza é límpida, cândida, porém, há um grande conflito que o atormenta.
Ele não acredita. Não vou julgar! As emoções, o pensamento, as percepções e o comportamento já não são mais os mesmos. Todos já sabem: delírios, alucinações, perturbações do pensamento, alteração da sensação do eu. Você já não é você, uma entidade já se apoderou do seu corpo, ou ele não existe mais. Mas não é bem assim que as coisas são. Acho que agora começo a perceber tudo o que você me disse ou pelo menos o que lembro que aprendi com você. Mas não preciso de paradigmas, não preciso de heróis, não preciso de afirmações irracionais... Serei eu mesmo então... Sem dramas, sem preocupações com Mr. Simple, sem isolamento social, sem busca de explicações, com primeira, segunda e terceira pessoas... Nada é fácil e nada é certo, mas a prudência e a constância gritam em meu espírito e com isso, já não sou mais o que um dia fui...
Mr. Simple SOFRE com a difícil verdade de possuir uma normalidade, fugindo assim, de sua condição de sonho e de nada. Mas sua luta passará... Sua impessoalidade acabará, ele voltará a ser humano e seus conflitos acabarão; o amor brotará em seu interior, sua doçura saíra da clausura, seus sentimentos ganharão força, e se o humano que o acompanha existir ainda como ser humano, será feito o amor mais intenso e mágico na Terra. M.R.