quarta-feira, agosto 17, 2005

Métodos e abordagens

Na faculdade, as minhas aulas de Inglês são ministradas por professores que defendem arduamente a teoria de que a abordagem comunicativa para o ensino/aprendizagem de uma língua estrangeira é o melhor método para se ensinar alguém a 'falar inglês'.
Sem o intuito de defender este ou aquele método de ensino, tudo que tenho a dizer é que não se pode condenar os behavioristas, audiolingualistas, inatistas e outros xxxx-istas, uma vez que cada método tem suas vantagens e desvantagens.
Creio que é muito fácil dizer para um aluno que "para aprender a falar outra língua é preciso pensar na outra língua" -- como se a mente desse indivíduo fosse um relógio que pode ser ajustado quando e como ele quiser --, mas o difícil é fazê-lo pensar nessa nova língua se ele não possui sequer o vocabulário básico para tal. Como eu posso pensar em francês se a única coisa que sei da língua é dizer bonjour?
Hoje comecei a trabalhar em uma escola que utiliza o método da tradução de regras gramaticais dentro da análise comparativa. Em outras palavras, o aluno compara as estruturas da língua alvo com as estruturas da línguas materna e, a partir disso, ele vai construindo suas hipóteses. Pode-se dizer que é um método matemático de ensino, mas o impressionante é que ele funciona.
Enfim, não se pode dizer que só existe um caminho para o ensino de línguas estrangeiras. Cada método tem suas vantagens e desvantagens, suas falhas e acertos e, o mais importante disso tudo é que se respeite o aluno. Talvez uma pessoa que não se adapte a um determinado método possa fazer muitos progressos em outro. Destarte, respeito e variedade metodológica são as palavras-chave no processo de ensino/aprendizagem de uma LE ou L2.

sexta-feira, agosto 12, 2005

Facts or Freedom?

Estava aqui a estudar para a prova de literatura infantil quando me deparei com um artigo sobre as filhas de Lobato: Ana Maria Machado, Ruth Rocha e Lygia Bojunga. Essas autoras refletem muitas características dessa pessoa responsável por várias e vitais mudanças no cenário literário e até econômico do país (veja post anterior sobre ele).
Uma dessas mudanças foi o incentivo que todos esses autores infantis deram à leitura como maneira de valorizar a inteligência das crianças. Eles também escreveram livros em que ‘assuntos de adultos’ eram trazidos numa linguagem acessível e questionadora para que os infantes pudessem crescer com um espírito mais crítico. Desse modo, quando grandes, esses leitores causariam diferenças na sociedade como um todo.
Mas o que eu quero dizer com tudo isso é que: muitos professores (não importa se professores de ensino fundamental, médio ou superior) não aceitam a posição dos autores acima mencionados e chegam a criticá-los colocando-os em posição inferior por lidarem com literatura infanto-juvenil e por terem pensamentos abertos para com as crianças. Isso me lembra o protagonista de Hard Times de Charles Dickens, Thomas Gradgrind, quando ele diz nas primeiras linhas do romance:
"Teach these boys and girls nothing but Facts. Facts alone are wanted in life. Plant nothing else, and root out everything else. You can only form the minds of reasoning animals upon Facts: nothing else will ever be of any service to them. This is the principle on which I bring up my own children, and this is the principle on which I bring up these children."
Da mesma forma que questiono a força do Behaviorismo e do método Audiolingual no ensino de línguas estrangeiras diante de todos os avanços imagináveis nessa área, me pergunto como pessoas defensoras de um sistema regulador das idéias e mentes de alunos (a idade e série aqui não são relevantes) podem ser tão poderosas? Soa-me muito injusto e contraditório, assim como ver pessoas morrendo por coisas tão ordinárias (saneamento básico de péssimas condições, por exemplo) num século representativo das mais altas tecnologias e descobertas em todas as ciências.
E os artistas, corajosos de mostrar que existe um caminho melhor são baleados por palavras que nem os homens das cavernas, talvez, seriam capazes de dizer.
Vida longa às filhas de Lobato e a todas as pessoas com olhos e mentes que vêem além dos Facts e dos preconceitos. E todos os apoios do mundo para as crianças leitoras de muito mais que os desenhos japoneses.

segunda-feira, agosto 08, 2005

O mundo de Wharton

Edith Wharton é a autora de um romance intitulado The Age of Innocence (A Época da Inocência), uma obra intrigante, pois em pleno final do século XIX, a autora apresenta uma concepção de sociedade que é vigente até os dias atuais.
Em The Age of Innocence, o leitor é transportado para um mundo de costumes e para uma sociedade aristocrática cujas regras são deveras rígidas e, em que o fato de não se seguirem tais regras é algo inaceitável.
Wharton descreve a sociedade aristocrática como sendo uma tribo -- 'tribe' -- em que a idéia de hierarquia deve ser socialmente aceita e assimilada por todos que são ou que querem se tornar parte da tribo.
Dentro da tribo, as pessoas têm um papel a ser desenvolvido de modo que elas continuem fazendo parte da mesma. Outro requisito para ser um membro da tribo é ter etiqueta, e isso pode ser visto no discurso de Lawrence Lefferts, um jovem que nas palavras da narradora do romance, "was, on the whole, the foremost authority on 'form' in New York." De acordo com Larry Lefferts, conhecer etiqueta -- 'form' -- seria algo essencial em qualquer pessoa. Vale a pena mencionar a ironia por trás de Larry, uma vez que quando haviam boatos em relação a fidelidade deste por sua esposa, o mesmo fazia discursos de cunho moralista.
Esta tribo, que, é, ironicamente apresentada ao longo do romance é um tanto (ou muito) hipócrita e isso se confirma no modo como as pessoas reagem quando a condessa Ellen Olenska retorna para sua família, após fugir de um casamento desastroso com conde Olenski. Inicialmente, ninguém aceita Ellen uma vez que ela violou uma regra social, isto é, ter abandonado seu marido e, por isso, ela poderia ser vista como um símbolo de vergonha. Quando Ellen retorna, sua família decide promover uma festa em sua homenagem, mas poucas pessoas aceitam o convite para o evento.
Na verdade, o mundo descrito por Wharton era apenas um meio de se estabelecer a idéia de uma sociedade patriarcal em que as pessoas são forçadas a concordar e lidar com um número infinito de coisas "inaceitáveis", como a relação extra-conjugal de Julius Beaufort, a fim de manter a idéia de que em uma tribo as pessoas devem proteger umas as outras e também serem protegidas por todos.
Se o leitor deste post observar o mundo ao seu redor, ele perceberá que a nossa sociedade é bastante idêntica àquela que Edith Wharton apresenta em A Época da Inocência.