domingo, agosto 06, 2006

Amélie: vilã ou mocinha?

Hoje eu escutava a trilha sonora do filme O fabuloso destino de Amélie Poulain ("Le fabuleux destin d'Amélie poulain", França, 2001). Este filme mexe comigo e eu nem sei o porquê. Talvez pelo fato de ele me deixar feliz. Como o próprio Jean-Pierre Jeunet diz, "Amélie é um filme feito para fazer as pessoas felizes".
Porém, algo me intriga. Até que ponto Amélie pode ser vista como mocinha? O ideal seria questionar até que ponto nós somos os mocinhos de qualquer história.
Amélie Poulain é uma moça simples que trabalha como garçonete em um restaurante do Montmartre. A partir disso, pode-se infeir que ela é uma pessoa comum como tantas outras. Silogisticamente, qualquer pessoa tem a oportunidade de mudar seu destino a qualquer momento.
Após encontrar uma caixinha de recordações, Amélie decide mudar seu destino, e a maneira que ela encontra para fazer isso é ajudar -- ou interferir-- (n)a vida alheia. Num primeiro momento, ela devolve a caixinha para Dominique Bretodeau e, ao fazer isso e ver que para ele a vida voltou a fazer algum sentido, ela decide ajudar outras pessoas.
E é nesse momento que surge a questão da vilania, uma vez que Amélie altera o destino de outrem a partir do que ela considerava ser bom para essas pessoas. Prova disso é o que ela faz com Madeleine, a mulher que fora abandonada pelo marido. Mesmo sabendo que o marido de Mado fugiu com outra mulher, Amélie envia-lhe uma carta fazendo com que esta acredite que ele esta no exílio, que não come e nem dorme mais, e que só pensa nela. Logo, Mado passa a acreditar que o marido ainda a amava e que morrera no exílio.
Poderia falar sobre mais coisas que criam o caráter dúbio sobre a dicotomia entre a vilania e o heroismo de Amélie Poulain, mas prefiro ficar por aqui, arrematando com a idéia de Hipolito -- o poeta fracassado --, que melhor representa o conceito de destino da humanidade:

"O destino humano se faz assim, no fracasso. E de fracasso em fracasso, nos acostumamos a nunca passarmos do nível do rascunho. A vida é o interminável ensaio de uma peça que nunca se realizará."

2 Comments:

Blogger Erika Igarashi said...

Muito boa essa questão!
Afinal de contas, somos os protagonistas ou antagonistas?! It´s the question! A resposta? Depende... o que pode ser bom para você, pode não ser bom para mim. Prefiro pensar que o ser humano costuma ser inconseqüente, não por maldade, mas por ignorar os efeitos de seus atos, um típico "bom selvagem" de Russeau (que por ironia era francês).
Bom, sou totalmente contra modificar o passado, mesmo que seja por uma "honoris causa". Crescemos não só com bons acontecimentos, mas com os maus também.
Resumindo: Amélie é uma vilã boa. =)

segunda-feira, agosto 07, 2006 2:02:00 PM  
Blogger Unknown said...

Simplesmente lindo!!!!
Levantei alguns questionamentos em mim.
Excelente texto!

terça-feira, agosto 08, 2006 5:11:00 PM  

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