Hoje eu escutava a trilha sonora do filme O fabuloso destino de Amélie Poulain ("Le fabuleux destin d'Amélie poulain", França, 2001). Este filme mexe comigo e eu nem sei o porquê. Talvez pelo fato de ele me deixar feliz. Como o próprio Jean-Pierre Jeunet diz, "Amélie é um filme feito para fazer as pessoas felizes".
Porém, algo me intriga. Até que ponto Amélie pode ser vista como mocinha? O ideal seria questionar até que ponto nós somos os mocinhos de qualquer história.
Amélie Poulain é uma moça simples que trabalha como garçonete em um restaurante do Montmartre. A partir disso, pode-se infeir que ela é uma pessoa comum como tantas outras. Silogisticamente, qualquer pessoa tem a oportunidade de mudar seu destino a qualquer momento.
Após encontrar uma caixinha de recordações, Amélie decide mudar seu destino, e a maneira que ela encontra para fazer isso é ajudar -- ou interferir-- (n)a vida alheia. Num primeiro momento, ela devolve a caixinha para Dominique Bretodeau e, ao fazer isso e ver que para ele a vida voltou a fazer algum sentido, ela decide ajudar outras pessoas.
E é nesse momento que surge a questão da vilania, uma vez que Amélie altera o destino de outrem a partir do que ela considerava ser bom para essas pessoas. Prova disso é o que ela faz com Madeleine, a mulher que fora abandonada pelo marido. Mesmo sabendo que o marido de Mado fugiu com outra mulher, Amélie envia-lhe uma carta fazendo com que esta acredite que ele esta no exílio, que não come e nem dorme mais, e que só pensa nela. Logo, Mado passa a acreditar que o marido ainda a amava e que morrera no exílio.
Poderia falar sobre mais coisas que criam o caráter dúbio sobre a dicotomia entre a vilania e o heroismo de Amélie Poulain, mas prefiro ficar por aqui, arrematando com a idéia de Hipolito -- o poeta fracassado --, que melhor representa o conceito de destino da humanidade:
"O destino humano se faz assim, no fracasso. E de fracasso em fracasso, nos acostumamos a nunca passarmos do nível do rascunho.
A vida é o interminável ensaio de uma peça que nunca se realizará."